22/07/2013

O amor e as trevas

        


        Eles estavam abraçados, seus corpos envoltos pelo frio noturno, tremiam diante do medo e do escuro... À espera de seus últimos segundos e o último beijo de adeus.

***

          Já era tarde da noite, todos os seres das trevas já espreitavam cada qual em suas sombras. O vento uivava como lobo em caça e ronda. O silêncio tomava a cidade como um exército armado, um estado de sítio, seres encarcerados... Dormiam tranquilamente em suas camas de algodão. Uma falsa paz, quietude apática à vida dos mortais, a noite e seus filhos.
           Em meio ao sombrio e tranquilo cenário, um casal de apaixonados à aventurar-se pela madrugada. Ela... Branca como a superfície da lua, de beleza esplendida e uma fina doçura. Ele... Forte, caloroso, a enlaçava em seus braços perto a seu corpo. Caminhavam pelas ruas desertas, levando seus amores e carinhos para o mais profundo das trevas, madrugada a dentro, perdendo-se ao se encontrar. Então, assim, eles caminharam... Até encontrar um belo jardim. Onde as folhas e botões de rosas fechados se iluminavam pela luz da lua cor de prata acima de suas cabeças. Disse Ele: "Nos lancemos ao chão do jardim, e gozemos do luar e das carícias do amor". Ela tentada por seu amado, sem demora ao pedido atende; e então... Lá estão eles, estendidos sobre a grama, a provar dos carinhos reservados aos amantes. Beijos, abraços, palavras balbuciadas com ternura, em meio ao gélido ar de uma noite escura, onde fantasmas circundam este abraçar.
            Avançava-se a madrugada, e talvez, logo viesse a luz do sol. E o casal, inocente e febril de paixão, permanecia no jardim, lançados ao chão, quando Ela diz: "Sentemos naquele banquinho de madeira rosada.". Ele, forte e gentil, pronto a atender o pedido amada, levantasse e à ajuda a se levantar. Os dois caminham em direção ao banco, ao chegarem, ele o limpa das folhas que o estava a infestar, senta-se e aninha a amada em seus braços. 

E vai-se foi uma hora, e nem sinal do aparecer da aurora. 
             
          Eles, mesmo achando a demora do raiar estranha, no entanto, nenhuma dúvida vinha atona. Apenas o amor lhes percorria as veias e o pensamento.
            Ruídos começavam a se agrupar. Uma atmosfera pesada de medo estava a se espalhando, e o ar, exalava agora o perfume que a morte usa quando se aproxima. E em meio à aquela escuridão, uma dança de sombras e sopros começa ao redor do amantes, algo que eles jamais viram. Uma imagem horrenda, talvez a pior das assombrações, agora, vai na direção deles, desprotegidos e confusos. Então, um arrepio atravessa através da espinha de ambos, e sem saber muito o que fazer, eles levantam de seus lugares e põe-se a correr. E mesmo antes que o fôlego se apressasse, eles já se viam perseguidos pelas mesmas sombras, seres horríveis, rostos estranhos, gemidos assustadores de antes. E como se a roda da fortuna estivesse contraria aos dois, Ela tropeça, cai  e desajeitadamente se projeta ao chão. Diz Ele: "Amor!" Assustado com tudo, porém não poderia abandonar a sua amada. Ele abaixa enquanto vê as sombras se movimentarem, e a ajuda a se levantar. Ela por sua vez, com um olhar triste e um sorriso desajeitado em seus lábios, agradece com um caloroso abraço, o gesto gentil de seu amado.
            A perseguição perdura por becos, esquinas, ruas e todos os locais possíveis, mas, apenas sombras por toda a parte era que se podia encontrar. E quase sem um raio de esperança, Ele tem um clarão em sua mente de um provável local seguro, um local desconhecido por quase todo mundo, exceto por ele e sua doce e linda flor. Ele a segurando pela mão, muda então o trajeto. Ela, como que lendo o pensamento de seu querido, lhe segue fiel, ainda que aterrorizado com o que tem acontecido. Atrás deste quadro bonito, formas demoníacas se propagam, o vento uiva de mal grado, zombando dos jovens apaixonados. Então... Eles param, seu destino era certo: Uma pequenina ponte sobre um braço de rio, uma visão amorosa daquela pequenina cidade, onde poucas coisas bonitas poderiam serem vistas. Mas... No vão perde-se o esforço.

***

              Agora, eles estavam abraçados, seus corpos envoltos pelo frio noturno, tremiam diante do medo e do escuro... A espera de seus últimos segundos e o último beijo de adeus. As sombras preparavam-se para o bote, como um serpente venenosa diante de sua impotente presa. E a escuridão crescia ao redor deles, como se nada existisse mais naquele local: nem ponte, nem rio, nem mesmo a cidade... Apenas as trevas. 
          Diante daquela situação, cada vez mais consumidos pelo mal que os sobreveio, eles se abraçam, e apertam-se como nunca jamais o fizeram. Mas é tarde até mesmo para o ultimo adeus. E em questão de segundos, tudo é escuro, frio, o vento com seu grito ensurdecedor, agora da lugar a um brisa quieta e nefasta, quando ao longe... Vê-se despontar uma lança dourada: O primeiro braço da aurora vindoura do novo dia, vem agora com tão forte energia, que em um lance de olhos... Toda a escuridão já se foi! Mas, tragicamente, não havia mais o amoroso casal, que pela madrugada se aventurou. Tardiamente a luz do sol chegara, mas... Ao chão, onde os doces pombos apaixonados fortemente se abraçaram... Um objeto muito bonito ocupa o lugar, de brilho eterno e sem igual, uma joia desconhecida ao olho mortal.
          Um lindo medalhão, com dois rostos, lembrando o sol e a lua. Em um beijo eterno de inocente pureza, é o que restara, do amantes apaixonados. Daquele abraço apertado, o ultimo gesto, antes de desaparecem. Um simbolo de amor infindo, fiel, até a morte... De dois corações, antes e agora... Unidos.




by Calado

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