Não há carros nas ruas, nem pessoas a caminhar em seu andar rotineiro e frenético. Não se vê animais à solta ou o acaso de um encontro entre amigos. Lojas fechadas, abertas. Casas abertas e fechadas. E tão somente o som do vento solitário a vagar de esquina em esquina.
Oh! Quão ainda tenho de me assombrar com este local tenebroso? Caminho... Caminho... Caminho... E por mais que aneloso, ando em cautela. Não há nada, ninguém e coisa alguma. Procuro ao menos um triste ou mesquinha criatura... E minha resposta é tão somente o silêncio. O ar foge de meus pulmões. Estou calmo, nervoso e oscilo com raiar por entre as nuvens de clarões - a única vida que encontro - o lua acima de minha cabeça. E por mais que o céu parece limpo, faz frio... Como se estivesse estendido do inverno o véu, neste Janeiro maldito.
O medo espreita cada rua, cada beco. Sombras e trevas se movimentam - coisas que vejo e não vejo - e o gosto de aço em minha boca, fere a língua já congelada. Escuto tão somente minha respiração... E o som de meus passos, toscos, incertos, sem rumo, desajeitados. Mas de súbito, ouço sons estranhos, agudos, graves, sujos, tão irritantes, gritantes. Uma agonia inexplicável toma conta de meu peito, minha respiração muda de ritmo, rápida, inconstante, hora respiro, hora não respiro. O temor se espalha por meu corpo, compacto, fino, como fio de lâmina mortal. Estou imóvel, atônito, músculos e ossos paralisados.
"vruuuuuuu... tcraaa..." Algo cai. Não vejo, meu corpo não se move por mais que eu tente, minha vontade de virar é forte e insistente; mas não! Não consigo se quer os olhos virar. Ouço uma respiração, sons de passos diligentes, e algo que me parecia o bater de grandes asas. Demônios? Anjos? Talvez uma figura desfigurada. "Vire-se! Vire-se" a mim mesmo digo. E nada, nada consigo, minha vontade é inútil. Sinto-me observado, frágil, tal como cordeiro pronto ao abate.Tal como aquele a que a morte à porta bate, meu desespero só não é maior que a vontade de me livrar do terror, do frio, deste macabro ardor que invade-me a espinha, como que possuído - Penso: "talvez, eu já tenha morrido.".
A situação me desespera, congelado, quase morto, ruas vazias, silêncio mórbido, bater de asas, o terror que assola a noite agora ronda minha mente... Meu coração mesmo que temeroso pulsa e bate insistente, minhas mãos ora suam, ora tremem; penso em tudo que havia e tudo que agora não há. No amor, na dor, nos sorrisos, na luz que diligente era ao rejeitar, na escuridão que abraçava com carinho. "Vire-se! Vire-se! Saco de ossos medroso e medonho" digo a mim em uma esperança desgarrada, um devaneio, um sonho em meio a um horror endiabrado. Então...
***
Minha mente não acredita no que meus ouvidos ouvem.
Apenas um segundo... nada mais que isso! Susto, pânico! Uma voz indefinida... Me aterroriza com palavras que não consigo identificar, falo próxima a um de meus ouvidos. Meus olhos não piscam, e não ouço mais nada, nem mesmo a pulsação de meu coração acelerada. E aquele som ecoa em minha mente por séculos em minutos. Eu... Assaltado por horrores noturnos, vozes, ventos, vultos. Ainda não consigo me virar. E a voz... E a voz... Tento lembrar-me o que me dissera. Não lembro, não lembro. Miséria! Assolado por assombrações que nem mesmo conheço... Sem paz, sem luz, sem o amor que desejo. Mas... Minutos depois...
Não sei quanto tempo se passou ao certo. Viro-me, estou na cama. O frio ainda cobria meu corpo de forma tremenda, estou trêmulo, meu olhar assustado; travesseiro ao chão o cobertor também está jogado. A noite ainda é escura, e nada está a passar na rua. Por fim o terror acabara.
Mas... A voz? As palavras?
Busco em mim uma explicação.
E o horror que me sujeitara?
Busco respostas. Solução.
Sonho? Realidade?
Assombrações, demônios, deuses, anjos...
Busco a resposta,
Só encontro dúvidas...
Fantasmas de uma noite louca.
E o som macabro que se perpetua.
Horrores no quarto e nas ruas.
by Calado
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